Comentários acerca da aderência entre concreto de diferentes idades

por | 24 set, 2020 | Sem categoria

Muitas pessoas têm me questionado acerca de que produto utilizar para garantir a aderência entre os materiais de recuperação e o concreto antigo. Posso dizer que a compatibilidade entre o material de recuperação e o concreto antigo não se dar em função da aplicação de algum produto de ponte de aderência – desde que os produtos sejam compatíveis quimicamente, por exemplo, cimento/cimento. A perda de aderência ocorre, geralmente, em função da retração que os materiais experienciam quando da hidratação do cimento, ou seja, o material de recuperação retrai, já que o concreto antigo, provavelmente já está maduro o suficiente e já passou pela maior parte da retração  a qual irá ocorrer durante a sua vida útil.

Quando as espessuras de recuperação são profundas, a indicação são os grautes ou microconcretos industrializados, que em sua maioria possuem retração compensada; quando as espessuras de recuperação são mais rasas, as argamassas de recuperação são a indicação, que se forem industrializadas –  geralmente é o que ocorre –  também possuem em suas composições, compensadores de retração. Agora, quando os volumes de material de recuperação são muito elevados, por questões econômicas, pode se lançar mão de concretos e argamassas moldadas in loco, e aí, dentre outras propriedades necessárias, existe a necessidade da incorporação de aditivos expansores, que compensem a retração desses materiais, geralmente, esses aditivos possuem altos teores de sulfatos e aluminatos de modo a expandirem através da formação da etringita.

Detalhe da forma de recuperação profunda

Detalhe da recuperação profunda

Detalhe da recuperação rasa

Já as pontes de aderência, agem no sentido de melhorar o contato entre o concreto antigo e o material de recuperação, não só em situações de recuperação estrutural, mas também na concretagem de elementos estruturais em períodos diferentes. A falha de preenchimento dos espaços de contato a serem preenchidos, causam as chamadas “juntas frias” que além de, estruturalmente serem um problema, também são um acesso aberto para a penetração de agentes agressivos à armadura.

Detalhe de “junta fria” de concretagem

Detalhe da aplicação de ponte de adetência a base cimentícia

A aderência entre materiais diferentes à base cimentícia se dá sob três aspectos, os químicos, os físicos e os mecânicos. A aderência química é tão maior quanto menor for o grau de hidratação do concreto antigo (sem esquecer das vias poliméricas dos materiais); a aderência física ocorre através da formação de “agulhas”, ou seja, a penetração micrométrica da pasta de cimento do material de recuperação na porosidade aberta do concreto antigo; e a aderência mecânica ocorre em função da resistência de fendilhamento entre os materiais (novo e antigo), face a rugosidade que aumenta a superfície de contato entre os materiais antigo e novo.

As pontes de aderência podem ser cimentícias ou resinosas (geralmente acrílico ou epóxi). As pontes resinosas geralmente são utilizadas em colagem estruturais ou reparos rasos, sem a necessidade de instalação de formas, porque esse material possui baixo pot life e a aplicação do material de reparo necessitaria ocorrer antes do endurecimento total da ponte de aderência. Isso porque, pós endurecimento os materiais resinosos não possuem aderência química com os materiais cimentícios (por razões óbvias), não possuem aderência física com os materiais cimentícios porque são pouco porosos, e quanto a aderência mecânica, também é dificultada, devido ao acabamento liso desses materiais. Já as pontes de aderência cimentícias possuem um tempo maior de espera para a aplicação dos materiais de recuperação, e basicamente, esses materiais “aplainam” o caminho para a aplicação dos materiais de recuperação, já que possuem uma consistência mais fluida que os materiais de recuperação, preenchendo melhor aqueles espaços mais difíceis e ainda, possuindo maior resistência, melhorando também a resistência das “agulhas” criadas.

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Fábio Giovanni

Engenheiro civil formado pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em Gestão da Construção Civil pela Universidade Federal Fluminense, Especialista em Estruturas e Fundações pela Universidade de Cidade de São Paulo, especialista em Engenharia Diagnóstica pela UNIP e Mestrando em Ciências e Engenharia dos Materiais, pela Universidade Federal da Paraíba.

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