Técnica de injeção de fissuras

por | 13 ago, 2021 | Patologias das Estruturas

Em virtude da última postagem, recebi muitas mensagens pelo direct solicitando maiores explicações sobre a tecnologia de injeção de fissuras nas estruturas de concreto armado. Então, farei esta postagem pra explicar um pouco melhor.

 

A técnica consiste basicamente em se aplicar os bicos de injeção, ora em furos realizados com brocas de diâmetro específico, ora aderidos sobre a superfície do concreto, espaçados estrategicamente no caminho (path) da fissura; vedar a fissura ou quaisquer outros vazios que possam estar conectados com as fissuras na região entre bicos (ou próximos deles) com uma resina tixotrópica, geralmente a epoxídica; aplicar (injetar) nos bicos, uma resina mais fluida, ou até materiais inorgânicos; escolher uma direção de aplicação mais adequada ao material adotado e mais adequada em função do grau de preenchimento da fissura que se deseje.

(a)

(b)

(c)

Fig. 1 – Detalhe da sequência de atividades (a) realização dos furos; (b) aplicação dos bicos de perfuração; (c) colmatação das fissuras com resina tixotrópica

 

Existem duas situações gerais em que a injeção é adotada como forma de recuperação. A primeira ocorre quando é necessário colmatar uma fissura que esteja submetida a um fluxo de algum fluido, ou esteja na possibilidade de ocorrer (em muros de arrimo ou contenções em contato com água). Nessas situações, é mais indicado a utilização de selantes como material de injeção, as resinas acrílicas e poliuretânicas e/ou a resinas poliuretânicas hidro expansivas. Caso o fluxo seja atual e contínuo, primeiramente, injeta-se a resina hidro expansiva e depois o selante de poliuretano. Nessas situações as fissuras podem possuir causa ainda ativa, ou seja, fissuras cuja causa ainda não foi sanada. Na segunda situação, o objetivo é reestabelecer a monoliticidade do elemento estrutural, de modo que as transferência de carregamento ocorra normalmente e a rigidez do elemento estrutural seja reestabelecida. Logicamente, antes da realização da injeção, neste caso, a causa da manifestação cujo sintoma é a fissura, deverá ter sido resolvida. Em algumas situações, estas fissuras já são classificadas como inativas (“mortas”) e não necessitam de ações no sentido de sanar as suas causas, como no caso, por exemplo, de fissuras causadas pela Formação da Etringita Tardia. Então, utiliza-se um material de injeção rígido, tão ou mais rígido que o próprio concreto e com características de elevada aderência ao substrato, de modo que ocorra a transferência de esforço entre as partes do material separadas pela fissura. Nestas situações podem ser utilizados as argamassas fluidas, os micro cimentos, resinas epoxídicas de média viscosidade, resinas poliuretânicas estruturais e as resinas epoxídicas de baixa ou baixíssima viscosidade, classificadas aí, por ordem decrescente de uso em função da  abertura de fissura que se deseje sanar.

 

Em ambas as situações de injeção, ou com materiais flexíveis ou com rígidos, existem duas técnicas para fazê-lo, através do bico por adesão ou através do bico por perfuração. O primeiro é mais indicado quando as pressão de injeção são mais baixas da ordem de 10MPa, geralmente com abertura de fissuras acima de 8mm (experiência própria), a outra, quando as pressões de injeção necessárias são maiores podendo atingir até 25MPa.

Fig. 2 – Detalhes do bico de injeção por perfuração (e) e por adesão (d)

 

A depender do material e da pressão de trabalho escolhidas, existem equipamentos específicos para a realização do serviço, que são compostos por bombas pneumáticas e sistemas de controle de pressão e vazão de elevada precisão, cabeças de mistura da resina, e os diversos acessórios que geralmente já vêm incluso quando se adquirem os equipamentos. Esses equipamentos, e o próprio processo, possuem diversas nuances executivas, tais quais, tipos de lubrificação, formas de limpeza da resina, período de set up entre operações em sequência, que só serão realmente percebidos e ajustados, com a experiência. Como sugestão, destine uma área de injeção e um volume de material que possa ser perdido, para que a equipe, com esses testes, ajuste-se no processo como um todo.

Fig. 3 – Detalhes do equipamento de injeção

 

Outra variável que é necessário atenção, e que raramente, encontra-se comentado nos manuais técnicos e acadêmicos, é a distância  entre os bicos de injeção. Geralmente os fabricantes das resinas, indicam que os bicos estejam distantes entre si de 15cm a 25cm. Mas qual distância utilizar? Ao aplicar o material de injeção em um determinado bico, espera-se que a resina “vaze” pelo bico subsequente de modo a interromper a injeção por aquele, que é teoricamente, o único caminho aberto à superfície. Ora, se tivermos fissuras com elevada profundidade, por exemplo em blocos de fundação, a resina percorrerá o caminho na direção da altura (profundidade) da fissura e na direção do bico não vedado mais próximo. Então, se a intensão for atingir os meandros mais profundos da fissura (lógico que as informações de profundidade, espessura e variação da espessura da fissura sejam conhecidas), então deve-se aumentar o espaçamento entre bicos e diminuir caso contrário.

Ainda gostaria de comentar acerca de uma situação muito comum, e na minha opinião embasada, bastante equivocada: a utilização indiscriminada da injeção de resinas flexíveis como sistema de impermeabilização, em especial de lajes. Esse quiproquó está em um mal entendimento acerca do que é um sistema de impermeabilização, que deve impedir que a água atinja a estrutura de concreto, haja vista, que o concreto é um material poroso, e a fissura não é o único caminho para que o fluxo de água ocorra através do elemento estrutural. Se água está em contato com o concreto, então, aí está o problema, que deveria ser resolvido no ponto de entrada, na falha do sistema de impermeabilização, ao invés de se concentrar no local de saída dessa água. Esta atitude seria a mesma que tratar a febre de um doente sem tentar descobrir o que a está causando. É óbvio que o remédio para a febre é importante para que o doente não entre em colapso, mas só isso.

Fig. 3 – Detalhes do flagrante da utilização da técnica de injeção de resina em poliuretano expandido, evidenciando que o vazamento continua após um período de remissão

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Fábio Giovanni

Engenheiro civil formado pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em Gestão da Construção Civil pela Universidade Federal Fluminense, Especialista em Estruturas e Fundações pela Universidade de Cidade de São Paulo, especialista em Engenharia Diagnóstica pela UNIP e Mestrando em Ciências e Engenharia dos Materiais, pela Universidade Federal da Paraíba.

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