Uma tragédia anunciada

por | 13 jan, 2021 | Tecnologia da Construção

Relutei muito em fazer essa postagem, face a possibilidade de uma grande repercussão, no entanto, decidi fazê-lo por achar que as consequências seriam suplantadas pelo benefício à engenharia, que é a minha busca incessante durante esses meus anos profissionais, as pessoas que me conhecem de perto podem atestar isso. Essa é uma situação muito importante pra a engenharia brasileira porque, talvez esta tenha sido a primeira vez, que um sinistro grave tenha ocorrido com conhecimento prévio.

Há três semanas, fui convidado a realizar uma avaliação em uma obra que apresentava sinais de manifestações patológicas graves. Essa edificação entrou em colapso, e vou tentar transmitir e comentar o que pude observar in loco, de maneira estritamente técnica.

A edificação, no momento da visita, possuía cinco lajes, e estava sendo construída como um anexo de outra edificação. Quando cheguei na obra, percebi que, a junta de dilatação estrutural que separava as duas edificações estava mais estreita na parte inferior que na parte superior, parecendo possuir nessa, uns 10cm. Um indício de recalque diferencial das fundações. O que parecia estranho era o sentido desse deslocamento, devido à possibilidade do incremento do bulbo de tensões no solo na região dos pilares do prédio existente.

Quando adentrei, fui direto na região dos pilares que poderiam estar sob recalque, percebi uma fissura sui generis em uma parede apoiada, de um lado no muro periférico e do outro, numa parede que talvez pudesse estar apoiada numa viga “baldrame” (Foto 1).

FOTO 1

Ainda nesse pavimento, busquei, nos pilares, por sinais de esmagamento de concreto, flambagem local das armaduras, ou fissuras de flexão, mas não haviam. No pavimento superior, vi que existia uma laje em balanço que fazia o contato com o prédio vizinho, essa laje estava rampada na direção da edificação vizinha (Foto 2). Como as edificações iriam ser integradas, imaginei que o problema fosse de nível entre as lajes, a estrutura nova teria sido construída numa cota mais elevada que a antiga. Pensei: foi incrementado o momento negativo desse balanço. Nos pavimentos superiores existiam esse mesmo problema, ora em maior grau, ora em menor.

FOTO 2

Uma tentativa de reforço

Em uma laje periférica na parte posterior da obra, pude verificar as paredes da periferia da edificação em sua face norte, e vi que alguns pilares estavam desaprumados ou locados com elevada excentricidade (Fotos 3 e 4). Também percebi, que apesar das alvenarias serem executadas em tijolos cerâmicos de vedação, alguns panos foram preenchidos por um material cimentício com forma, a estilo de uma parede de concreto moldado in loco, para minimizar os desaprumos, o que ainda poderia aumentar o carregamento na estrutura (Fotos 3 e 4).

Subindo mais, percebi, no 3º pavimento, que uma viga possuía sinais claros de deficiência ao cortante, com fissuras de enorme abertura, inclinadas junto ao pilar e ainda fissuras decorrentes de deficiência de capacidade à flexão (momento positivo), achei estranho, porque essas últimas não estavam localizadas no meio do vão mas, deslocadas uns 50cm a 60cm. Fui ao pavimento mais acima pra ver se descobria o porquê do deslocamento do momento. Percebi, que o trecho desse pilar no pavimento acima, estava deslocado, apoiado na viga que apresentava as fissuras, aí entendi o deslocamento do momento máximo. Fiquei muito preocupado com esse fato, já que esse não era o último pavimento, e se essa viga entrasse em colapso, os pavimentos superiores poder im ruir sobre os pavimentos inferiores e o colapso progressivo da estrutura ocorrer. Estribo rompido, tentativa de reforço,

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Fábio Giovanni

Engenheiro civil formado pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em Gestão da Construção Civil pela Universidade Federal Fluminense, Especialista em Estruturas e Fundações pela Universidade de Cidade de São Paulo, especialista em Engenharia Diagnóstica pela UNIP e Mestrando em Ciências e Engenharia dos Materiais, pela Universidade Federal da Paraíba.

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